Eu corria pelo mundo a brincar, como quem sente que é a única chance que se tem para aproveitar a vida. Parecia um menino. Bonecas? Que nada! Eu preferia um vídeo game!Preferia brincar de lutinha. Se metia no meio dos meus primos, pois sabia que brinquedos e brincadeiras de garotos eram sempre mais legais. Uma criança com uma boneca no colo não fazia tanto sentido! Criança não foi feita pra brincar de ser mãe! Foi feita pra brincar de ser criança! Eu sabia disso, sem se dar conta eu sabia.
Minha mãe me deixava tão bonita naquelas roupinhas de menininha, e quando eu saia pra brincar, voltava diferente. Nem parecia aquela menina que saiu com as roupas tão fofinhas.
Pois é, alguns escolhem viver a infância de maneira intensa e a sujeira nas roupas deixam marcas de lama para mostrar o quanto vale a pena correr destrambelhada pelo mundo. Quando me cansava deitava na grama. Curtia meus momentos de tranquilidade seguindo os passos de alguma nuvem. Imaginava animais quando via as nuvens. Por eu
imaginar, tudo aquilo se tornava realidade. Às vezes,eu ficava tanto tempo observando as nuvens que nem notava o momento em que elas começavam a se derramar sobre mim em forma de chuva. Eu gostava da chuva também. Minha mãe, não. É claro, mãe nenhuma gosta de chuva quando seus filhos estão debaixo da tempestade. Eu não me importava com a chuva, com as roupas sujas, com os meninos que zombavam de mim por gostar de vídeo game e de brincadeiras de meninos.Ás vezes me batia aqueles momentos e eu pegava salto alto da mamãe, aquele batom vermelhão, e saia pela casa desfilando feito uma madame. O mundo era bem maior e mais legal quando eu enchergava, as pessoas pareciam mais verdadeiras, e tudo tinha menos sentido.
Na infância, eu só não vi estrelas cadentes, porque o resto tudo já presenciei. E hoje, depois de
tanto tempo que a meninice passou, talvez uma estrela possa cruzar o céu velozmente diante de meus olhos. Talvez eu faça um desejo à estrela e, quando acordar, a minha meninice esteja lá, fitando meus olhos quando eu olhar para o espelho ao amanhecer. Talvez eu viva tudo outra vez e alguma nuvem derrame sobre mim mais do que chuva… Talvez a nuvem derrame sobre mim pingos de paz..
Porque toda criança mesmo sofrida, sempre teve aqueles momentos de felicidade que só a infância pode nos dar. .